SOCIALIZANDO

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UM CARA PARECIDO COMIGO!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011




"A REALIDADE É UMA MERDA"

Acalme-se, olhe as apóstrofes,  não foi eu quem disse essa frase, escrevi claro, mas essa frase clássica é de autor desconhecido. Digo clássica pois já ouvimos bastante, sentimos bastante e também adoraríamos muitas vezes estar fora da realidade, e sim, alí, dentro, no centro dessa ilusão de ótica por exemplo. Uma pessoa que não revelo o nome nem sobre tortura, garantiu pra mim que dentro de sua realidade, só sua, se sente cantora, se sente aplaudida no interior da música tocada no seu fone de ouvido e assim fazendo a viagem longa ficar agradável e tranquila. Imagina-se uma estrela dentro do seu carro e uma musa no seu chuveiro.  Me garantiu também que em situação muito ruim, ruim mesmo, sempre imagina como será quando aquilo acabar, pra quem irá contar, se aumentará a história, se omitirá os detalhes, e quando percebe, foi-se. A situação já passou. Para essa pessoa, essa é sua maneira de sair da realidade. Compensa?

Dizem que a realidade é para ser vivida, encarada de frente, ser contra ela quando for dura, apostar que consegue passar por cima em época de revolução, inundar a boca e a garganta com gargalhadas altas na realidade feliz. Mudar a realidade quando achar que aquilo não serve mais a você, e fazer a realidade de alguém trocar de rota quando se dá um amor em falta aquela alma. 
Preferir viver em sonho...bem; tem lá suas compensações.

No antigamente, até profissões, algumas, ensaiavam passos para serem seguidas, essas, fora da realidade, fora de um mundo onde somente se conheciam profissões de uniformes brancos, eram dadas como fúteis, desgostos, piadas. Porem brotavam sonhos naquelas mentes que gostavam de uma realidade diferente, de viver no sonho da escrita embargado de claves e dedilhando partituras, pincelando borrões e inventando máquinas novas. Mentes que sonharam, inspiraram o mundo dos realistas, transformaram batidas sem nexo em ritmos nobres de embalo de sábado a noite.

Ouvi dizer que para ter uma vida ruim, basta viver no mundo da ilusão - " caia na real "; dizia um deles. Pense um pouco, mas realidade do que se vive, acho impossível, se o sonho, se a ilusão, que seja de ótica, não existir, onde irá se ancorar a esperança? 

Viver em órbita é tão presente e forte em nossas vidas que as novelas fazem sucesso, filmes explodem bilheterias e heróis, como se poderia ser, fazem parte do nosso meio. Do meio adulto, do mundo grande, do mundo real.
Um apaixonado,  passa suas horas mais felizes vivendo dentro do cubo do amor? Será que não? Será que ele não é mais satisfeito no mundo vivo, intocável, porem vivo, do romance?

A imaginação, o toque da ausência, a aventura desbaratinada, o ser insano,  isso é uma arte de tocar seu caminho no lado da vida onde a corrida por dinheiro não tem vez.

São eles, os loucos e mortos da realidade que pintam mais a vida, são os sonhadores que fogem de um mundo vil e transportam para outras almas um caminho sereno, verde, sábio e mais gostoso de se estar.

Viva a não realidade, viva ao sonho, sim ao mundo dos autistas de emoção, viva a motivação da ilusão, o acreditar do circo, as velhas histórias, os desenhos animados e os 15 anos da moça e os 18 do rapaz.

A realidade é uma droga; e sejamos honestos. Quem não quer estar fora dela?








terça-feira, 8 de novembro de 2011

UM ABRAÇO ME TROUXE DE VOLTA

                                                               PARTE FINAL

 A velha mulher que não era tão velha assim, cansada, sua pele  fazia a idade alterar em anos a frente sem ter ainda experimentádo-os. A minha cuidadora trazia uma voz suave, uma brisa marítima com sabor de floresta em seu hálito, muito habilidosa com meus lençóis e fazia  nuvens com meus travesseiros, esses me tiravam sonos angelicais, mesmo após broncas ou pior, desprezo paternal.
Minha cuidadora, me fez crescer, sonhar, rezar e saber o que era um amor, aprendi que isso era sinónimo de um olhar bom, um cheiro no pescoço, uma brincadeira ao pé da cama. Isso era o que eu recebia e vivia. Certa vez minha cuidadora  se ausentou por bastante tempo, teve que viajar para passar uma temporada com um parente doente, fiquei só, no sentido de solitário por dentro, pois estava, em físico, com meus parentes sanguíneos, " meus pais ", parentes sanguíneos, soa melhor. Trancado e chateado com a solidão de menino, me prestei a fazer mais uma tola bobagem de menino; tentar um carinho, puxar uma brincadeira, tentar ser filho e ele pai. Não consegui, os detalhes do meu fracasso,  são tristes, por isso não irei expor em minúcias aqui, porem, naquele dia, uma grande fúria me tomou e resolvi me afastar do meu mundo, do mundo onde permanecia ausente como filho, longe como menino, morto como pessoa. Viajei para um lugar dentro do meu quarto e ainda mais fundo na sombra do meu fracasso como filho; não conseguia fazer as coisas darem certo, ser uma criança, um menino normal, um ser inteiro, fugi por saber que por mais que eu quisesse, tinha a nítida impressão de ter nascido na família errada, minha preferência, era ter nascido pé no chão, entre barracos, com pouco comida, mas ainda assim com alguma, e tomado da doçura de boa noite de vô e benção de pai.
Naquela noite,  a mais solitária de todas,  já se passavam alguns dias que minha cuidadora não retornava,  perdi a esperança de tornar a ver seu cabelo escuro e suas sandálias de pano do final do dia. Ocorreu então algum tipo de problema na saúde de meu pai,  era um homem forte,  nunca tinha percebido um espirro seu enquanto eu ficava resfriado uma vez por mês. Ouvi um barulho forte no quarto e corri para me espreitar e saber o que acontecia, antes de me tirarem da frente, vi seus braços estirados pra baixo da cama, como se apontassem para algo no chão, sem movimentos, sem reflexos. Um dia depois soube que meu pai,  mesmo sem entender muito, deveria ser operado e necessitava de algo de alguém para isso. Para meu alívio, minha cuidadora chegou, e fui saber algumas horas depois que ela tinha isso que ele necessitava,  porem o que fosse tirado dela,  poderia ela correr o risco de não ficar bem.
Se me fizessem essa pergunta milhões de vezes, mais de milhões não saberia responder. Ele, é meu pai, distante, mas meu pai, ela, minha cuidadora, quem me faz feliz, quem me cuida, quem eu largaria meu pote dourado para ter seus cuidados eternos.
Em um conflito interno, me coloquei a olhar para o céu e pedir desculpas,  por vezes preferir que minha cuidadora não passasse por isso,  não corresse esse risco por ele,  será que valia a pena? Ele faria o mesmo por ela ou por mim? Conflitos. Minha resposta, chegou depressa, de umas mãos frias e tensas em minhas costas, mas com firmeza no que gostaria de falar:
 Seus conflitos internos são normais, o amor e o desprezo não andam unidos, e cada palavra você sente por uma pessoa diferente, a escolha, o desejo, não é fácil. Agora pense,  pense e abrace quem você quer ver amanhã de novo, pense se o mesmo abraço não possa ser dado nos dois com a mesma força. Um por merecer, outro por necessitar. Virar as costas, tornará você igual as atitudes que tomaram contigo. Não deixe que nada lhe mude, mude você alguém.
Essa voz, que não virei para conferir o rosto,  soltou de mim uma amor espetacular por meu pai e um mais forte pela cuidadora e sua coragem,  fiquei tão alegre para poder dar o abraço aos dois, que me virei e cortei forte o braço em um vidro no corredor do hospital onde esperava notícias com outras pessoas, meu sangue se espalhou pelo chão. Um jovem residente, sabendo do caso,  teve a genial idéia de colocar meu sangue para experimento, então, estava achada a cura para meu pai,  eu podia dar sem riscos por causa de minha juventude o que minha cuidadora daria.
 O abraço, veio em seguida, só que do lado oposto, não sei se pela gratidão da cura, do amor nascido, do enxergar a vida com novas idéias...não sei. O que me importou em verdade é que um abraço me trouxe de volta.