Quando me
deparei com aquele monumento, pensei: Bacana, mais uma loja, mas loja de quê?
Qual o produto? O ponto é bom, muito movimento, a loja é iluminada, ar
condicionado em todo canto, bem confortável. Mas será uma loja de refeição? É
bem provável, a toda hora abre uma loja de comida, se bem que pelo requinte
deve ser uma loja de sapatos, alguma coisa voltada para senhoras, são as que
mais compram.
No sinal,
aproveitei para olhar bem a loja, de perto era ainda mais atraente, tinha
trabalhadores fazendo as finalizações, colocando os adereços que não davam por
enquanto para identificar o que seria vendido naquele local. Cores perfeitas,
cadeiras confortáveis e a frente envidraçada, tornando o comércio bem
provocante à entrada. Não era de se admirar que mesmo ainda não em
funcionamento atraia as pessoas do ponto de ônibus próximo, os transeuntes, os
parados e os como eu, motoristas.
Realmente uma
estrutura bem construída é admirável, era bem provável que fosse uma loja de grande
multinacional filiada ao bairro, bom, iria atrair novos empregos, jovens com oportunidades,
geração de lucro para região e desenvolvimento indiretos, mais impostos, isso
tudo passando pela minha cabeça no engarrafamento e sinal fechado ainda.
Em outro dia
passando pelo mesmo local, só que de dia, percebi a entrada dos tapetes para
loja, desacelerei para pegar o sinal fechado e ver mais de perto o que
acontecia. Era o recebimento de flores, louças, cortinas e bastantes livros,
pensei: “ Livros “? Biblioteca matei o que iria ser a loja, ainda meio
convencido, tentei adivinhar mais alguma coisa, loja de casamento, casamento
tem louças, flores, tapete, mas livros? Fui embora mais uma vez, e durante um
tempo esqueci aquele caminho da loja, esqueci-me da loja, o que seria e como
seria.
No mês
seguinte, voltei ao caminho, por coincidência, devido ao tumulto, e retenção
que estava no transito, fiquei um tempo olhando para rua procurando algo
interessante para me distrair, e por fim avistei a loja, só que dessa vez, era
uma grande loja, já pronta, em forma e vendendo tudo que alguém pudesse e
quisesse comprar, vi que era um local bem eclético, no sentido da venda, não no
sentido no que realmente iríamos procurar. Com muita curiosidade de várias
visitas, parei o carro em frente e fui ver o que era aquilo tudo, a tal loja
inusitada, folgada de olhadas esbugalhadas agora se mostrava como uma caixa de
surpresa ansian para ser revelada.
Igreja,
nova, negra com feches amarelos, amarelo ouro e negro forte como uma noite
escura; a super loja era quem, em idéia, iria gerar todo sonho novo de uma
região, um sonho capitalista, um novo movimento financeiro. No meu humilde
esclarecimento, não tinha informação de que diferente transformou uma loja em
uma igreja, desde antes o que sempre soube foi o tino que não há venda em
igreja, não ocorre pedido, a não ser de fé, fui treinado a ver a igreja branca,
clara, cor suave, pura.
A loja
vendia um super produto que atendia a todo tipo de público, como promoção
colocava rosa nas mãos dos compradores, garantia o resultado da necessidade de
concessão do pedido, bastava apenas o cliente utilizar o manual chamado fé,
quando o produto retornasse com o resultado obtido ao cliente, a casa ganhava
um comprador fiel, um cliente que volta e ainda espalha a melhor propaganda,
boca a boca.
A loja,
igreja, comércio, ainda não identifiquei muito bem o que era, entusiasmava quem
procurava, confesso que o pessoal era bom no negócio, o setor de marketing
funcionava muito bem e era o principal negócio da empresa. Os livros, os quais
ví entrando na instituição, estavam todos expostos a venda em lindas
prateleiras, o conhecimento sobre o produto era vendido sempre para que quem
comprasse soubesse exatamente o que levaria, de que forma usar, o que era preciso
para obter melhor rendimento e o limite que poderia utilizar o produto.
Garanti a
mim mesmo que não me apossaria da mesma tese da suposta igreja, pensei ser
apenas uma novidade passageira em meios a lojas que vendem um produto
celestial, de fácil acesso a todos, porem em lojas, apenas são engarrafados com
layout novo, tiragem com rótulos coloridos e panfletos possuidores de persuasão
indicando que ali ou lá, e somente ali ou lá, pode se obter o que tem de melhor
no produto, o up grade existente no mercado.
Pasmei com
compradores empolgados em novas compras, empolgados com as novas cores, com
novos meios de compra, da garantia real de realizações, compradores sem
conhecimento, mas com crédito, compradores sofredores e carentes de solução,
vinda de qualquer lugar que curasse a dor, que amenizassem a tristeza, os
compradores encantados com a lucidez das palavras de alguém que percebeu que um
contrato invisível como a franquia do produto, lhe traria novos e novos
compradores.
O produto
vendia-se por sí só, o que precisava sempre era despertar nos compradores o
interesse pelo produto, após isso, o retorno era certo, tudo empregado na
estrutura seria restituído rápido, em dobro, em triplo, em nova forma.
A loja não
mais me atraiu, toda a curiosidade sobre uma grande e boa novidade foi sanada
com a decepção, os meios empregados na venda do produto tão necessário e
gratuito quando se quer, não tocaram esse comprador, aliás, esse cliente, pois
a compra desse produto não é verdadeiramente possível, e sim recebe-lo gratuitamente
dentro de si é a parte mais difícil.
Produto celestial é obtido com a fraternidade, o fazer do
bem, o querer ser do bem. É achado na mão que pega a rosa doada, a mesma que em
qualquer lugar do mundo, unisse-se para um pedido ou para doação.