SOCIALIZANDO

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UM CARA PARECIDO COMIGO!

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Um abraço me trouxe de volta

                                                                      PARTE IV

Em algumas de minhas viagens visitei esnobes primos meus, poucos, distantes, mas ainda assim parentes, percebi que todos viviam de maneira estranhamente feliz com a ausência de seus pais, substituíam suas faltas com adoráveis presentes coloridos e caros, ficavam tão só que se mandavam, criaram maneiras de fingir, a meu ver, que nada estava acontecendo, acostumaram a ser solitários, sem um beijo de boa noite, sem um conselho, sem uma bronca de mãe para menino, sem um pulo no colo do pai depois do trabalho, órfãos de presença. Figuras paternas ausentes, transferindo os valores de um pai para um subalterno, que por vezes, com certeza, pensava que não queria estar ali, e sim com os seus, fazendo tudo aquilo que era invisível para aqueles.
Tentei por vezes parecer da mesma forma, fingir que nada poderia me atingir, não sofrer, não pegar na foto para colocar debaixo do travesseiro, não ter que inventar contos incríveis, para não ser identificado como um desprezado...era desse jeito que me sentia.
Do andar de cima,  ouvi muitas benções enviadas a mim, ví muitas coisas,  aqueles episódios passados em meus olhos, me carimbavam ainda mais a certeza do que eu precisava para ser melhor, um pouco mais completo -,  Eencontrar um sorriso de manhã e motivos noturnos para sonhar bem:  Estar com pessoas, ter carinho e doar carinho, a meus pais, a possíveis amigos, a desconhecidos que me desejam o bem somente por eu ser seu semelhante. Isso me falta, faltava a meus pais, esses que vivem bem e não sabem como vivo. Vivem bem, mas não tem idéia de como é mostrar a vida a alguém, vivem bem, e não são pais suficientes para a mão dar ao filho e fazê-lo aventurar-se por um caminho da vida para ele também viver bem, ser mais concreto, físico, apreciador, humano e criança.

 E nessa parte, na ausência sentimental, é que entra a minha cuidadora.

                                                                    CONTINUA

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Um abraço me trouxe de volta


                                                                  PARTE III


A minha velha, que não era bem minha, mas seria eu feliz que fosse -, que fosse a minha senhora, a senhora que eu pudesse dizer que estava ali, precisando dela e de sua mão quente e enrugada engalfinhada nos meus cabelos bem tratados, e chacoalhasse minhas idéias com carinho de urso, mas bem vindo, do jeito que eu precisava e merecia. Quem dera que fosse minha... achavam que era, muitos diziam que eu poderia pedir o que fosse a ela e  o faria, de comida a um invento louco sem propósito. Uf! Pra que quero tudo, se o mais caridoso e tão simples não se dão conta que não posso possuir. Não...não sou um " pobre menino rico ", não me sinto assim, gosto de algumas coisas que tenho, como todo mundo, preciso de algumas coisas, o que observo e não vejo isso em ninguém, é que nada precisa ser demais; tenho demais, posso demais, pra quê? Isso não é aceito nem no céu nem no inferno. Então, acho que o certo deveria ser em parar na medida da necessidade suprida, jamais demasiada.
Minha cuidadora, esqueci até seu nome, de tanto que a chamava assim, me cuidava, me ajudava, me olhava como seu filho, não sei se era mesmo assim, mas como eu queria que fosse. Gostaria de perguntar se sentia amor por mim. Não entendo muito sobre o grau de intensidade dessa palavra, porem ouvi dizer que é o melhor de se conceder de  alguém para alguém, e se melhor coisa eu tiver dentro de mim, em verdade digo que é isso.
Minha cuidadora, sabe-se lá de onde veio, do que abdicou para estar a meu lado, não sei se veio escrava, por vontade própria ou pelo dinheiro, não... pelo dinheiro não, se é amor que ela tem por me criar; ouvir dizer que amor não se compra, se conquista, brota, evolui de um lugar bom.
O que me falta hoje, incrível, é suprido, em parte, por uma estranha, meus pais... não sei quem são, os conheço, mas realmente não sei quem são. O que querem, se sabem que vivo por trás de toda essa roupa rica, se verificam meu olhar vago com suas ausências, se me chamam de filho ainda.

Meus pais
                                                                
                                                                      CONTINUA






segunda-feira, 10 de outubro de 2011



Um abraço me trouxe de volta

PARTE II

 De todas as maneiras a vontade de me ver longe daquilo que eu vivia era imensa. Ouvia contos de meninos ricos e bem amparados que se tornavam um rebelde por apenas serem superiores, " melhores ", a sua visão, de todos os outros ao redor. Não queria aquilo pra mim, não precisava ser como eu era, nascer intocável, puro de violência e afastado de amor. Que era alias, algo totalmente desconhecido pra mim.
 Sabia que eu não tinha o coração mal, pois me torturava  ver um olhar cinza tentando me dizer o quanto gostaria de estar no meu lugar, o quanto seria feliz com minha roupa e o que faria bem a sua alma caminhar sobre meus pés. Era tão importante a minha vida para alguns que eu sofria em não poder dividí-la com ninguém, em não dar muito mais de mim, a um e a outro.
 Por tempos pensei que apenas poucas coisas me faltavam, coisas pequenas para quem me achava supremo, para mãos que se honravam em tocar nas minhas bainhas, mãos pequenas, olhos cinzas, rosto seco e cheiro de ervas: Essa era a minha cuidadora. A quem eu devia uma lua, um astro, uma chuva de beijos ou apenas um olhar carinhoso. Aquilo é o permitido a ela; não...não é o que eu gostaria, posso mais, entretanto retido com truculência em um braço forte de quem achava o gostar uma tolice que eu não poderia jamais sentir, me inibia, forçava-me ser frio, infiel com meus sentimentos, despreparado para doar o bem. O que eu doava era apenas inveja; questionamentos e pouca esperança.

A cuidadora...
    CONTINUA

quarta-feira, 5 de outubro de 2011







PARTE I


Um abraço me trouxe de volta
 Decidi seguir por um estilo de vida que me dava sucesso com o espelho, que me incendiava de orgulho e cobria meu ego em ouro, um estilo de vida que me contemplava um pódio, uma satisfação noturna, parecia ter mais que as 7 vidas felinas, estava sempre no auge, em cena de moçinho, mesmo sendo o bandido.
Meu modo de viver estendia mãos sobre as minhas, bocas em pedidos eram abertas todo tempo, minhas roupas na parte de trás, ficavam sempre enegrecidas de tantos tapas nas costas recebidos em contemplação a quem eu era e o modo como fazia as coisas. Quem eu era, o que eu fazia?
Jovem ainda aprendi a lidar com o sucesso mesmo estando de braços atados, meu perfume era sentido a distância, e com minha presença, sempre ficava fácil olhar com atenção tudo que estava tão longe de mim de tantas e tantas costas curvadas ao meu passar. Eu não pedi, mas eu era assim. Queriam que eu fosse assim, me fizeram acreditar que eu podia estar sempre intocável, me fizeram acreditar que seria venerado eternamente.
Não, não sou um príncipe, mas em verdade lhe digo...um abraço me salvou...
                                                                       CONTINUA