SOCIALIZANDO

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UM CARA PARECIDO COMIGO!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Parece que sente o cheiro....
 - Bom dia, está sozinho no veículo? Está armado?
 - Não senhor.
 - Por favor cnh e documento do carro.
 Remexe daqui, abre porta luvas, tira papel da carteira para achar a cnh, tira cd, caneta sem carga, lenço de papel, chupeta. Pronto, achou o porta documentos do veículo.
 Uma grande e demorada observação, passos  em torno do carro, uma clínica análise em todos os itens externos do veículo, coisa digna de " Dr. Hollywod ".
 - Por favor, abre o porta malas do veículo. E aí vai mais uma vistoria. Tira step, chave de roda, macaco, peraí. Antes tira o carrinho do bebe, bolsas velhas, papel rasgado, material de trabalho. Pronto, agora começa tirar o step.
 - Ok, pode fechar a mala, o veículo é seu? Não está no seu nome.
 - É meu mas ainda não transferi para meu nome.
 - Está atrasado o documento, sabe que não pode rodar assim, a cnh está em dia mas o veículo não, o senhor está irregular para circulação. Tem que rebocar. Meia volta vão ver, uma virada de costas, é a deixa para você pensar.
 Tempo...começa aí o primeiro ato. Uma grande encenação de sofrimento, dor, culpa, tristeza, arrependimento.
 - Que isso chefe, sei que tô errado, mas tô na correria aí como o senhor, uso o carro para trabalho e não posso ficar sem ele não. Me ajuda aí chefe. Tô juntando aí o dinheiro para pagar, já agendei a vistoria e tal.
  Primeira tentativa do primeiro ato feita.
 - Já agendou a vistoria? Aceno tímido de sim com a cabeça.. -  Como se não pagou o ipva?
 - A senhora lá falou que podia agendar.
 - Sei, mas tá errado senhor, não pode rodar com o veículo irregular. Prim...primm! É a chamada no rádio que deixa a pessoa mas tensa.
 - Manda o reboque pra cá, tenho que rebocar um carro aqui.
  Início da segunda tentativa do segundo ato.
  - Que isso chefe, deixa eu falar com o senhor por favor. - Amigo, só estou fazendo o meu trabalho, você tá errado.
 - Eu sei chefe, mas o senho - (nessas horas de nervosismo o vocabulário vai embora)   pode me ajudar por favor, vê aí o que o senho pode fazer, pô se o senho levá o carro, não vou conseguir tirar do depósito, não tá no meu nome. Priim..primm! - Azevedo ( nome de guerra policial ) o reboque tá chegando. Primm! - Ok!
 - Pô chefe, vê aí por favor, quebra essa pro amigo. - Aguarde ali por favor, vou falar com o sargento! Tempo....
 Geladeira, esse é o momento, quando se passa direto em uma blitz policial. prestando atenção estão todos os motoristas parados, com olhar cabisbaixo, tentando achar uma saída, sem o documento do carro e sem sua cnh, enraizados ao telefone, pedindo para o primo do tio do seu amigo que o pai é soldado, para assim tentar, quem sabe, passar um "Primm" para o policial Azevedo, enfim... " quebrar essa". Isso demoooora!
 Alguns minutos depois...bem perto de fazer 60 minutos, perto o tanto que  faltava apenas 1 minuto. - Então senhor, como ficaremos? Não posso manter o carro na via todo esse tempo, o reboque já chegou, vou mandar subir.
 Como todo teatro é assim, início; uma grande abertura, a abertura é o início da peça chamada fiscalização, que supostamente, por seu nome, deveria fiscalizar. Encenações, encenações, com um meio e final previsto, pelos integrantes, não pelo público, afinal, o público são vocês, os que não passaram por uma blitz policial, os que passaram e não foram torturados nas paradas e os que foram parados e se identificam totalmente com o quadro.
 Terceiro ato.
- Pô chefe, não possa ficar sem o carro não, me ajuda aí. Então, é a hora,  como em toda peça, existe alguns atos mais esperados que outros, algumas cenas que marcam mais, que a sonoplastia capricha intensamente.
 - O que o senhor pode fazer pelo policial? Estou cumprindo meu papel, o senhor está errado e me pede para não rebocar o carro? Estou cumprindo a lei, falei com o sargento e não tem como liberar.
 - Que isso chefe, pelo amor de Deus ( Deus não multa, Deus não reboca - igual ao Detran ) estou com o material aí ô para entrega, preciso fazer, tem como deixar um....PSSSS! - Tá subornando o polícia?  - Não chefe, que isso, tô pedindo aí uma ajuda e querendo ajudar o senhor.
 Pensem de verdade, perguntado a vocês qual seria agora a atitude costumeira, tanto sabida e vista e ainda sofrida por aí, que o senhor policial iria tomar, o que pensariam? Suborno aceito. Entretanto a atitude foi outra.
 - Senhor, sou servidor, ganho pouco para o risco de minha profissão, mas é minha profissão, estou cumprindo o que diz o código de trânsito, aqui eu tenho o poder de apreender seu veículo, o senhor deve regularizar o débito do carro e circular normalmente, se eu ajudar o senhor terei que realizar isso para todos, sem privilégios diferenciados.
 - Ô seu polícia. Prometo que irei pagar aí o ipva, prometo ao senho chefe, estou na correria aí ô, tô precisando de auxílio mesmo chefe.
 A apreensão do carro foi feita. Em continuação a blitz, um deputado por acaso passou por ela e foi parado para averiguação ( termo que policiais adoram ). O mesmo procedimento teatral de sempre foi feito, todas as perguntas, trejeitos, toques no rádio e tudo mais. Até a identificação.
 - Senhor policial, sou deputado, estou votando a lei que dá um aumento pra vocês, esqueci de renovar a cnh me alivia por favor.
 Senhor, sou um servidor, ganho pouco....
 Ainda por mais incrível que possa ser, topamos com profissionais assim por vezes, no meio de muitos, esses que tem grande aversão a determinado tipo de atitude como essa, mas eles existem. Existe também quem devolve o dinheiro achado, quem devolve a maleta repleta de cédulas perdidas em um banheiro, existe quem repele o suborno e quem aceita a honestidade. Existe o querer somente o que é de direito. Existe sim um lado perfeito da história. Somente entristece, quando o lado bom da história tem que ser eliminado por ser normal ou "anormal" em honestidade.É péssimo quando se sabe que pequeno são os bons e muitos são os não bons. De alguma maneira, seguir com uma índole boa não faz mal a ninguém.

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